Sagaz, não? Eu entitulei o post dessa forma não pra tentar
parecer um espertão, mas como um lembrete pra mim mesmo. Eu cheguei a
conclusão, mais uma vez, que a auto-regulação só funciona se você presta muita
atenção ao que o seu corpo está te dizendo e então faz as adaptações de acordo
com isso. Vamos dar uma olhada nesse estudo de caso:
1. O atleta dobra o volume de treino durante a preparação pra
um campeonato de powerlifting. No mesmo período ele corta calorias num esforço
de baixar o nível de gordura corporal o mais rápido possível. Um dia antes do
campeonato, o atleta não come e nem bebe nada. O atleta vai super bem no dia da
competição.
Mesmo assim, insatisfeito com sua performance, decide tirar apenas
3 dias pra descansar antes de começar a treinar de novo com a mesma rotina de
treino, mas com tentativas periódicas de aumentar ainda mais o volume de treino
pra forçar a adaptação enquanto em uma dieta restritiva.
2. Depois de uma semana de 3 sessões de agachamento super
pesada e 3 sessões moderadas, entre 1 hora e 1 horas e meia de treino, as
pernas do atleta começam a doer incontrolavelmente. Pra compensar, ele só
treina o levantamento terra na semana seguinte.
3. Mais dores aparecem, agora nas costas - e as dores das
pernas continuam. O atleta começa a fazer terras com uma mão todas as manhãs, e
mais três sessões noturnas adicionais durante a semana.
Em sua arrogância, ele
vira pra conversar com alguém enquanto faz o exercício com 144kg, fodendo de
vez a sua perna direita, desde o quadril até os pés. A dor é constante na
articulação do quadril, sua banda iliotibial está toda travada, e sua lombar
parece que tem uma faca enfiada o tempo todo.
4. O atleta começa a fazer arremessos, todas as manhãs, pra
trabalhar a execução e alongar os antebraços e as pernas. Mais dores nas
pernas, e agora os antebraços ficam travados também.
5. Já no seu último treino, ele ficou limitado a fazer apenas
o supino na máquina, que também fodeu com seu ombro.
6. O atleta está aleijado.
Sou o cara com o lançador, mas eu teria ele apontado pra mim
mesmo.
Caso você ainda não tenha percebido, o atleta acima referido
sou eu. Eu dei um jeito de transformar minha filosofia de 'foda-se todo mundo,
eu deito' em 'Vá se foder corpo! Você precisa deitar mais!' Isso, amigos, foi
um erro. Conforme eu fui ficando impedido de treinar partes dele, eu aumentava
a carga de trabalho ainda mais em tudo o que eu ainda podia fazer.
Como eu estava punindo de forma satisfatória o resto do meu
corpo por perder a habilidade de fazer certos exercícios, eu acabei gastando 6
horas do dia de ontem tentando massagear os pontos doloridos nas minhas costas,
ombros, quadris e perna (sem sucesso), com um theracane e uma bola de tênis.
Não deu muito certo. Eu deveria ter tirado um tempo pra
refletir sobre o que tinha começado a acontecer comigo, mas eu estava tão certo
que eu podia forçar o meu corpo a fazer o que eu quisesse que ignorei todo tipo
de sinal me avisando o contrário. Mike Tuscherer comentou esse fenômeno
recentemente:
"Você tem que saber o seu limite. Isso é senso comum,
mas nós, powerlifters, perdemos isso de vista algumas vezes.
Se você sente que está se lesionando, pare. Se não está
confidente em fazer um peso, você deveria tentar ele no treino? Se você está
cansado demais pra manter o foco, vá descansar. A lista não termina.
Isso é muito importante pra todos, não somente para aqueles
que treinam sozinhos. Mas pra esses é ainda mais importante."
Dessa forma, a
auto-regulação só funciona se você, de fato, escuta o seu corpo e regula o
treino de acordo. Eu não fiz isso, e falhei em reconhecer todos os sinais que
ele me enviou. Eu comecei a achar que sentir dor da hora que eu acordava até a
hora que eu ia dormir era um bom sinal. Isso foi estúpido. Mais estúpido ainda,
foi não ter percebido que meu corpo estava implorando por um descanso ao invés
de mais trabalho.
No ponto que eu cheguei, usar o theracane é como
tentar apagar um incêndio mijando.
O que isso nos ensina? Você pode ser o fodelão do seu
território, e pode ter toda a força mental do mundo, mas em algum momento, você
pode estar se fazendo mais mal do que bem. E mais, se você concluiu que está se
torturando o dia inteiro, por semanas, e se arrasta pra ir até a academia, você
pode estar girando em círculos, na melhor das hipóteses.
Pare, reflita muito sobre o que você fez, e adapte o seu
treino. Dessa forma, ele não deveria ter o mesmo volume de quando você estava
totalmente saudável. Tire alguns exercícios e continue adaptando o volume pra
que ele fique igual a sua capacidade de trabalho momentânea. Assim, você não
vai arrastar seu corpo até um matadouro enquanto se recupera.
Eu, no caminho pro meu último treino.
Se você quer um método um pouco mais científico pra
determinar o seu nível de recuperação pra um determinado dia de treino, dá pra
tentar o TRAC system (tem
que se cadastrar no site). É bem fácil de usar e te ajuda a descobrir quando
pisar no freio, baseado no sistema biométrico búlgaro.
O que importa é
a jornada, e não o destino. Toda jornada tem seus percalços e dificuldade.
Todos cometemos erros, mas a chave é aprender com eles. Eu estou tirando esse
tempo pra repensar tudo que eu venho fazendo, desde o treino até a dieta, e
tentando novas e velhas variações pra ver se eu consigo acelerar a recuperação
e ter algum progresso ao mesmo tempo.
Isso não quer dizer
que eu vou jogar tudo o que eu já fiz fora, e sim que eu vou olhar pra trás e
ver exatamente o que funcionou, quando e incorporar alguma coisa que eu já
fazia, ou algo novo. Mas sempre tendo como o principal aquilo que eu sei que é
útil pra mim. Todo mundo deveria fazer isso num regime livre como o Chaos and
Pain, mas para aqueles que são um pouco cabeças duras talvez seja necessário
tomar uns tabefes na cara como um lembrete.
Pense, e
depois cresça.
-
Tradução do artigo de
Jamie, pesista e entusiasta dos esportes de força.
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