segunda-feira, 22 de junho de 2015

Dicas de treino: se adaptando ao princípio da adaptação.






Sagaz, não? Eu entitulei o post dessa forma não pra tentar parecer um espertão, mas como um lembrete pra mim mesmo. Eu cheguei a conclusão, mais uma vez, que a auto-regulação só funciona se você presta muita atenção ao que o seu corpo está te dizendo e então faz as adaptações de acordo com isso. Vamos dar uma olhada nesse estudo de caso:



1. O atleta dobra o volume de treino durante a preparação pra um campeonato de powerlifting. No mesmo período ele corta calorias num esforço de baixar o nível de gordura corporal o mais rápido possível. Um dia antes do campeonato, o atleta não come e nem bebe nada. O atleta vai super bem no dia da competição. 



Mesmo assim, insatisfeito com sua performance, decide tirar apenas 3 dias pra descansar antes de começar a treinar de novo com a mesma rotina de treino, mas com tentativas periódicas de aumentar ainda mais o volume de treino pra forçar a adaptação enquanto em uma dieta restritiva.



2. Depois de uma semana de 3 sessões de agachamento super pesada e 3 sessões moderadas, entre 1 hora e 1 horas e meia de treino, as pernas do atleta começam a doer incontrolavelmente. Pra compensar, ele só treina o levantamento terra na semana seguinte.



3. Mais dores aparecem, agora nas costas - e as dores das pernas continuam. O atleta começa a fazer terras com uma mão todas as manhãs, e mais três sessões noturnas adicionais durante a semana. 



Em sua arrogância, ele vira pra conversar com alguém enquanto faz o exercício com 144kg, fodendo de vez a sua perna direita, desde o quadril até os pés. A dor é constante na articulação do quadril, sua banda iliotibial está toda travada, e sua lombar parece que tem uma faca enfiada o tempo todo.



4. O atleta começa a fazer arremessos, todas as manhãs, pra trabalhar a execução e alongar os antebraços e as pernas. Mais dores nas pernas, e agora os antebraços ficam travados também.



5. Já no seu último treino, ele ficou limitado a fazer apenas o supino na máquina, que também fodeu com seu ombro.



6. O atleta está aleijado.



Sou o cara com o lançador, mas eu teria ele apontado pra mim mesmo.



Caso você ainda não tenha percebido, o atleta acima referido sou eu. Eu dei um jeito de transformar minha filosofia de 'foda-se todo mundo, eu deito' em 'Vá se foder corpo! Você precisa deitar mais!' Isso, amigos, foi um erro. Conforme eu fui ficando impedido de treinar partes dele, eu aumentava a carga de trabalho ainda mais em tudo o que eu ainda podia fazer.



Como eu estava punindo de forma satisfatória o resto do meu corpo por perder a habilidade de fazer certos exercícios, eu acabei gastando 6 horas do dia de ontem tentando massagear os pontos doloridos nas minhas costas, ombros, quadris e perna (sem sucesso), com um theracane e uma bola de tênis.




Não deu muito certo. Eu deveria ter tirado um tempo pra refletir sobre o que tinha começado a acontecer comigo, mas eu estava tão certo que eu podia forçar o meu corpo a fazer o que eu quisesse que ignorei todo tipo de sinal me avisando o contrário. Mike Tuscherer comentou esse fenômeno recentemente:



"Você tem que saber o seu limite. Isso é senso comum, mas nós, powerlifters, perdemos isso de vista algumas vezes.



Se você sente que está se lesionando, pare. Se não está confidente em fazer um peso, você deveria tentar ele no treino? Se você está cansado demais pra manter o foco, vá descansar. A lista não termina.



Isso é muito importante pra todos, não somente para aqueles que treinam sozinhos. Mas pra esses é ainda mais importante." 







Dessa forma, a auto-regulação só funciona se você, de fato, escuta o seu corpo e regula o treino de acordo. Eu não fiz isso, e falhei em reconhecer todos os sinais que ele me enviou. Eu comecei a achar que sentir dor da hora que eu acordava até a hora que eu ia dormir era um bom sinal. Isso foi estúpido. Mais estúpido ainda, foi não ter percebido que meu corpo estava implorando por um descanso ao invés de mais trabalho. 



No ponto que eu cheguei, usar o theracane é como tentar apagar um incêndio mijando.



O que isso nos ensina? Você pode ser o fodelão do seu território, e pode ter toda a força mental do mundo, mas em algum momento, você pode estar se fazendo mais mal do que bem. E mais, se você concluiu que está se torturando o dia inteiro, por semanas, e se arrasta pra ir até a academia, você pode estar girando em círculos, na melhor das hipóteses.



Pare, reflita muito sobre o que você fez, e adapte o seu treino. Dessa forma, ele não deveria ter o mesmo volume de quando você estava totalmente saudável. Tire alguns exercícios e continue adaptando o volume pra que ele fique igual a sua capacidade de trabalho momentânea. Assim, você não vai arrastar seu corpo até um matadouro enquanto se recupera.



Eu, no caminho pro meu último treino.



Se você quer um método um pouco mais científico pra determinar o seu nível de recuperação pra um determinado dia de treino, dá pra tentar o TRAC system (tem que se cadastrar no site). É bem fácil de usar e te ajuda a descobrir quando pisar no freio, baseado no sistema biométrico búlgaro. 





O que importa é a jornada, e não o destino. Toda jornada tem seus percalços e dificuldade. Todos cometemos erros, mas a chave é aprender com eles. Eu estou tirando esse tempo pra repensar tudo que eu venho fazendo, desde o treino até a dieta, e tentando novas e velhas variações pra ver se eu consigo acelerar a recuperação e ter algum progresso ao mesmo tempo.



Isso não quer dizer que eu vou jogar tudo o que eu já fiz fora, e sim que eu vou olhar pra trás e ver exatamente o que funcionou, quando e incorporar alguma coisa que eu já fazia, ou algo novo. Mas sempre tendo como o principal aquilo que eu sei que é útil pra mim. Todo mundo deveria fazer isso num regime livre como o Chaos and Pain, mas para aqueles que são um pouco cabeças duras talvez seja necessário tomar uns tabefes na cara como um lembrete.



Pense, e depois cresça.





Tradução do artigo de Jamie, pesista e entusiasta dos esportes de força.


Nenhum comentário:

Postar um comentário